terça-feira, 15 de novembro de 2022

Noites claras

 

Há dias em que a noite me apetece

O seu silêncio ruidoso de mistérios

E o céu em breu polvilhado de brilho

Guiam-me pra além do planisfério

 

Nesses dias tudo fica lúcido

As certezas atravessam o lamento

Revestindo-se de siso e firmeza

Levam-me ao bom discernimento

 

Até as incertezas mais perenes

Dão trégua por um breve instante

Tudo parece tão clarividente

Calculadamente equidistante

 

As luzes em meio à escuridão

São o rumo que eu tanto preciso

Pra clarear a neblina de angústias

E transbordar o melhor do meu riso


Autor: Fido do Carmo

domingo, 13 de novembro de 2022

Vento bom

 

Soprou um certo vento bom

Refrescante tal hortelã

Com força pra levar o mal

Pairado sobre o meu clã

 

Brisa que areja a paz

Faz o trabalho de artesã

Com esmero e fineza

Modela a minha mente sã

 

Como Éolo vou fazer

Guardar a brisa pra amanhã

E se aquele mal brotar

Farei do vento o meu divã


Autor: Fido do Carmo

domingo, 6 de novembro de 2022

Pomar de poemas

 


Sonhei com um pomar de poemas

Todo dia brotavam novos versos

Sempre colhia os mais maduros

Eram sobre os temas mais diversos

 

No sonho, o pomar era balsâmico

Uma mistura de flores e frutos

Enfeitava e alimentava a casa

Saciando com belezas e usufrutos

 

Acordei e, logo, olhei no quintal

Lá estava apenas o velho pomar

Mangas, jaboticabas e pitangas

Exalando como um belo manjar

 

Os poemas não estavam por lá

A procura me levou a pensar

Que o pomar muito ajuda a criar

A depender da forma de olhar

 

A poesia não dá como fruta

Nasce e se faz no enlace do amar

Em terra adubada pelo sentir

Brota a vontade de declamar


Autor: Fido do Carmo

sábado, 5 de novembro de 2022

Sai do sereno, Serena

 

Sai do sereno, Serena

Disse a dona bonita

Seduzida pela rua

A gata no sereno fica

 

Desce do muro, Serena

Disse à gata zureta

Preocupada com a gata

A tutora faz careta

 

Entra pra casa, Serena

Insiste a tutora bendita

A gata hipnotizada

Só vê o que lhe cobiça

 

Venha comer, Serena

Abre o patê pra gatita

Sai do sereno correndo

E avança sobre a comida


Autor: Fido do Carmo

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Teoria dura

 

Minha tez que exalava poesia

Hoje sofre com a pura teoria

Se o conteúdo é duro como pedra

A forma carece de ser tão severa?


Autor: Fido do Carmo

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Febre do saber

 O que eu sei é tão pouco

O que não sei, quase tudo

Esse todo aumenta muito

A cada átimo de segundo

Eu busco, eu ando, eu luto

Mesmo se corresse sozinho

Ainda seria pouco, louco

Se a febre do saber me toma

Na alteridade mergulho

Arrefece o calor interno

Pois tudo que não sei

Certamente está no outro

Autor: Fido do Carmo

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Asas da paz

 

Asas da paz

 

Asas de conforto, envolvam-me!

Penas brancas de suave toque

Aqueçam-me no teu colo brando

E embalem o meu sereno sono


Autor: Fido do Carmo

sábado, 29 de outubro de 2022

Foice do tempo

 

O ontem, foice afiada do tempo

Que cortou aquele possível momento

E ceifou a lembrança do que não se viveu


Autor: Fido do Carmo

Onírico

 

Onírico

Minhas noites parecem jogos

Conduzidos pelo subconsciente

Com charadas embaralhadas

Que ficam dias na minha mente

 

Alguns deles desaparecem

Tão logo eu me desperte

Até tento voltar ao sonho

Mas o espírito segue inerte

 

Oh! Morfeu, deus dos sonhos

Mande-me formas inteligíveis

Que revelem o caminho

Desses enigmas inacessíveis

 

Os cenários arquitetados

Dos meus sonhos mais bizarros

Poderiam gerar belezas

Tal Dalí, Frida e Picasso

 

Mas tudo é tão insólito

Desmorona e me aflige

Nem Freud tá dando conta

Dos enigmas da Esfinge

 

Oh! Morfeu, deus dos sonhos

Mande-me formas inteligíveis

Que revelem o caminho

Desses enigmas inacessíveis


Autor: Fido do Carmo

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Devir

 

Devir


Daqui pra frente

Só quero vida, amor e revolução

E que as dores do passado

Fiquem como um denso manto

De cicatrizes marcadas e mortas

 

Daqui pra frente

Que venham as dores novas

Pois tenho o coração preparado

Com um escudo duro, casca grossa

Formado com cicatrizes sobrepostas

 

Daqui pra frente

O passado calará o grito.... silenciará

O medo será atropelado pelo tanque

Da vontade de viver tudo o que é ser

Porque o devir é o meu grande trunfo


Autor: Fido do Carmo

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Saudade

 

Sau

da

de

Palavra-igreja

Que congrega a falta

Do bem que se foi

Que reza a lembrança

Do gozo de outrora



Autor: Fido do Carmo

sábado, 22 de outubro de 2022

A morte do sim

 

A morte do sim

 

Há de florescer o melhor de mim

Nem que para tal eu decrete o fim

Da minha porção que sempre diz sim

 

Às vezes o não, parece ruim

Mas ele é vital, é bem, outrossim

Vou tirar as ervas daninhas do sim

 

Quais flores nascerão no meu jardim?

Será que o meu melhor cheira a jasmim?

A morte é a vida da cor carmim


Autor: Fido do Carmo

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Quintal da bicharada

Quintal da bicharada


Uma gatinha malhada

Pulou no meu quintal

Subiu no pé de manga

No encalço do pardal


A gatinha acinzentada

Residente do local

Animou-se e se pôs

A subir de modo igual


Um cãozinho peludinho

Dono da jurisdição

Revoltou-se com o agito

Começando a confusão 


O alvoroço inusitado

Despertou a atenção

E o pardal ergueu voo

Fugindo salvo e são


Lá do alto, o passarinho

Sentindo a tranquilidade 

Cantou forte o deboche

E voou em liberdade


Autor: Fido do Carmo

Chuva de primavera

 Chuva de primavera


Oh! Chuva de primavera

Umedece a minha terra 

Que a seca prisão do outrora

Inunde com as águas do agora


Autor: Fido do Carmo


terça-feira, 18 de outubro de 2022

Horas duras

 

Tempo. Temporal de horas duras.

Chove forte e eu sem guarda-chuva.

 

Dura. Dureza tempestiva e crua.

No solo teso evapora a ternura.


Autor: Fido do Carmo

Vilarejo

Vilarejo


Sinto-me preso no sopé de uma montanha

No vale, a força catabática frustra a subida

Mas crio asas e plaino nesta forte ventania

Esperançando, luto pelo enleio da partida

 

Escudo-me no colo da elevada cordilheira

Como águia, fito o topo e  me empenho no desejo

De alcançar as alturas da visão emancipada

No horizonte, o vento bom daquele vilarejo

 

Projeto-me aos solos de uma nova geografia

Onde as asas são livres do tempo-dinheiro

E a existência é enfrentada com dignidade

Sem grilhões, as plantas dos pés geram viveiros

 

Autor: Fido do Carmo

domingo, 16 de outubro de 2022

Tronos

 

Tronos

 

Há tronos sem majestade

Onde todos são quase iguais

Na louça branca ou bege

Do Shopping e dos terminais

 

Na hora do desespero

Ninguém escolhe o assento

Quando chega sem sobreaviso

Faz perder o acanhamento

 

A posição comum a todos

Prostrados na defensiva

No alarido e sob o aroma

Da assentada meditativa


Autor: Fido do Carmo

sábado, 15 de outubro de 2022

Há de surgir

 

Há de surgir

 

Há de surgir um abrigo seguro

Cercado de fossos profundos

Com adarves e altos muros

Tão fortes que impedem o abuso

Do intruso poder iracundo

Que cega e faz tudo imundo

 

Há de surgir um sorriso largo

Faceiro como enredo criado

Com a trilha dos Novos Baianos

No embalo de braços amados

Com ébrios afetos forjados

No brasido dos enamorados


Autor: Fido do Carmo

Pobre poema

 

Pobre poema


Há dias em que tudo seca

Lágrima, sorriso e poema

Aonde outrora transbordou

Nada, por mais que esprema

 

Tento, esforço-me a sentir

Coloco-me aberto ao dilema

Com o riso e o olhar ressequido

Só me resta este pobre poema


Autor: Fido do Carmo



quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Mar da existência

 

Mar da existência


A calmaria do alto mar é momentânea

O tempo de tormenta sempre espreita

Atrevo a desbravar o mar da existência

Com o barco tímido de proa bem feita

 

Mas o leme as vezes pesa tanto, tanto...

Segurá-lo firme na tormenta é resistência

Num esforço vívido busco manter o fito

E impedir o desvio da bússola da sapiência

 

No limite da sobrevivência do amigo siso

O sopro brando da brisa marinha regressa

Nesse ínterim, refaço-me e ergo o espírito    

A alma, por pouco tempo, descansa sem pressa 


Autor: Fido do Carmo

Alvorada desejosa

 

Alvorada desejosa

Noites frias esquentadas pelas pernas quentes

Pelo afago do colo fragrante e candente

Que me levanta em plena alvorada fria

Aquecido pelo desejo de desfrutar da tua chama

O fim do inverno se anuncia

Ah, primavera!

Já é sentida no calor das tuas belas pernas


Autor: Fido do Carmo

(feito no fim do inverno de 2022)

12 versos de saudades

 

12 versos de saudades

Saudades dos tempos do dia inteiro na rua

De passar as manhãs jogando bola de gude

Dos manjares grátis nos pomares da estação

Da corrida pelas trilhas para o banho no açude

Do antes, do durante e do depois do futebol

De contar e se orgulhar das pilhérias épicas

De ficar o dia inteiro descalço sob a luz do Sol

Da época de soltar pipas e papagaios no céu

Da energia de viver correndo sem se cansar

Das feridas das quedas ser tratadas como troféu

De cada melhor amigo em toda cidade deixada

Lembranças da infância que aquecem a alma


Autor: Fido do Carmo

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Eu Sísifo

 

Eu Sísifo

Todo dia a pedra rola

Não tem hora prevista

Por vezes rola a noite

Outras, na luz do dia

 

Empenho toda energia

Empurrando morro acima

No cume quase vencido

A força contrária intima

 

Recomeço é o meu nome

De sobrenome esperança

Caminhando com fé na vida

Do castigo faço mudança

 

Cada vez que tento subir

Algo em mim se modifica

As pernas ficam mais firmes

E a mente se purifica


Autor: Fido do Carmo

sábado, 8 de outubro de 2022

Górgona vencida

 


O vácuo da mão estendida

O rigor dos lábios cerrados

O sisudo olhar inclinado

No silêncio do tom desagrado

 

Tal qual Górgona da mitologia

O olhar quer fazer virar pedra

Os sentidos e as almas singelas

Faz arder como o frio da Sibéria

 

Mas onde o amor é brasido

Sobrepuja o olhar aquecido

E com calma e certeiro altruísmo

Regenera o afeto perdido

 

Fido do Carmo

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Gira

 

Gira

 

Gira Terra, gira mundo

Giram astros, gira tudo

Gira roda, gira vida

Giro alegre e sisudo

 

Gira Sol, gira estrela

Girassóis, luz que gira

Giravolta, volta e gira

Gira noite e dia

 


Autor: Fido do Carmo

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Irrupção

 

Irrupção 


Raios de impiedade

Incontrolável terror

Atravessam o caminho

Independente do clamor

 

Manifestação assombrosa

Uma estranha irrupção

Criam dúvidas da virtude

E da condição de são


As pistas estão dadas

É preciso esquadrinhar

Quanto maior a ansiedade

Sobrepuja o mau pensar



Autor: Fido do Carmo

 

Gestação mítica

 

Gestação mítica

 

Do Minotauro, o chifre e o rabo

Do centauro, o dorso e casco

Entrelaçam os dois casos

Desumano por dois lados

 

O instinto animalesco

Foi gerado no apreço

Pelo meio mais funesto

E amarrado no cabresto

 

Filhos da destemperança

Geração de intolerância

Violência e matança

Desabona a confiança

 

Se persiste a quimera

Sobram genes de Pandora

E das partes mais humanas

Nascem brotos de esperança


Autor: Fido do Carmo

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Inconsistência

 

Inconsistência

 

Os meus desejos invisíveis

Estão num lugar incólume

E por mais profunda sonda

Eles sempre se escondem

 

Em lampejos devaneios

Cenas surdas entrecortam

E por mais que mude o eixo

Quase sempre elas voltam

 

Um mosaico embaralhado

Por agora, indecifrável

Anseio o fio de Ariadne

Pra torná-lo desvendável


Autor: Fido do Carmo

Vontade e razão

 Abram as janelas da alma  Destranquem vossos corações  Que o frescor da brisa praiana Tire o peso das más condições Que a beleza suplante a...