Quando você me acalma
Com a tua falta de pressa
Sinto um conforto na alma
Nada mais me interessa
Quando você me apressa
Pra cuidar da minha alma
É amor em via expressa
Farol que brilha, Estrela d'alva
Autor: Fido do Carmo
Sejam bem-vindos ao meu balbucio poético, isto é, às minhas tentativas de fazer dos meus sentimentos e dos pensamentos matéria-prima para a poesia.
Quando você me acalma
Com a tua falta de pressa
Sinto um conforto na alma
Nada mais me interessa
Quando você me apressa
Pra cuidar da minha alma
É amor em via expressa
Farol que brilha, Estrela d'alva
Autor: Fido do Carmo
Coração cheio
(Para a minha Flor, Cravo e Canela)
Meu coração está cheio
Transbordando de emoção
Com afinco eu semeio
Gérmen da transformação
O amor supera tudo
Traz candor e mansidão
Limpa a alma e sobretudo
Faz da vida exclamação
Ficaria o tempo inteiro
Com esta nobre sensação
Hoje as flores do canteiro
Desabrocham em gratidão
Nestes versos verdadeiros
Eu declaro a minha paixão
Me despeço, mas primeiro
Entrego a ti o meu coração
Autor: Fido do Carmo
Prefiro carregar água na peneira
Do que aceitar aquele vasilhame
No qual transborda, sobremaneira
Todo aquele maldito ditame
O despropósito melhor me serve
Do que o sádico e velho tatame
Onde o grilhão pesado consegue
Sufocar o bem e deixar tudo infame
Autor: Fido do Carmo
Teu calor me faz tanta falta
Em pleno sol de fevereiro
Quero entrar na tua chama
Desejo ardente o ano inteiro
Teu ósculo me guia ao teu âmago
Teus lábios me abraçam com vontade
Minha boca quer beber da tua flor
Me curvo em frente da tua majestade
O meu fruto pulsa forte em brasido
Por tuas pétalas, o desejo é ardente
Na grama do teu jardim lateja o meu mastro
E o deleite jorra em abundância candente
Autor: Fido do Carmo
Viveiro de liberdade
Só quero ser eternamente responsável por aquilo que cativo se, e somente se, cativar significar o sentimento de encanto e fascínio. Só assim, sem fazer no amor reféns em cativeiro há de brotar e florescer a liberdade como em um fértil viveiro.
Autor: Fido do Carmo
Confiança
(Ao meu Bem, Cravo e Canela)
Tu és força eterna
Teu ser arde em brio
Beleza pura e terna
Fulgor elevado a mil
Tu és lua cheia de luz
Brilho que ofusca o mal
Clarão que ilumina e conduz
Para além do sentido carnal
Voltarás ao meu colo um dia?
Meu coração contrito espera
Sofrendo de tanta agonia
Acreditarás na minha honraria?
Sou leal e a verdade revela
Que a confiança nos curaria
Autor: Fido do Carmo
Soneto da vitória
(Ao meu Amor, Cravo e Canela)
Hoje, eu sou apenas amor
Desvio da trilha da dor
E sigo sem nenhum pudor
Rumo ao lugar do esplendor
Venha comigo, meu Amor
Te guio com todo ardor
No encalço norteador
Da alegria seremos pendor
Ao aportar no rochedo
Nossos pés firmes serão
E pra trás ficará todo medo
Este é o nosso enredo
Confie em mim com decisão
Temos tempo! Tempo certo!
Autor: Fido do Carmo
Divago de-va-gar
Vagueio semparar
Sigo a devanear
Va-ga-ro-sa-men-te
Pensamento vagabundo
Desprendido, errante
Toma-me o rumo
li-ber-tan-te
Leva-me como
pluma
Liberta a
minha
mente do
rigor
pe-ri-cli-tan-te
Autor: Fido do Carmo
O Sol está te chamando. Venha! Siga àquela Luz e as suas pétalas se abrirão. Mas como são várias camadas de pétalas sobrepostas, das mais diversas cores, cheiros e texturas, elas precisam de muita luz, água limpa e bom adubo. Só assim, sentem-se confortáveis para mostrar toda a sua imponência.
As flores mais raras são também as mais difíceis de cuidar. Tais flores não se contentam com a penumbra, menos ainda com qualquer água, solo ou ambiente. Elas necessitam de equilíbrio e condições favoráveis para o seu pleno afloramento.
O tempo está mudando. As condições de nebulosidade estão sendo sopradas para longe. O céu azul e o vento bom já dão sinais de permanência. O firmamento, do oriente ao ocidente, revelam o brilho do Sol que te guiará ao lugar da bonança.
O Sol está te chamando. Venha! O mundo precisa te ver. A paisagem sem as tuas cores perece na incompletude. No horizonte é possível avistar a primavera da vida. E o Sol... ah, o Sol! Ele te aguarda ansioso para te aquecer e ver você desabrochar.
(Para a minha Amada Cravo e Canela)
A mente
Às vezes
Temente
Esconde
Da gente
Memórias
Pendentes
Entrementes
Hiatos
Silentes
Calados
Correntes
Castigo
Doente
Autor: Fido do Carmo
Passarinho
Queria ser um passarinho
Pra ser empurrado do ninho
E incentivado a sozinho voar
Queria ser um joão-de-barro
Pra me ocupar com um belo trabalho
Que eu próprio iria aproveitar
Queria ser um beija-flor
Pra viver pairando sob o sabor
E do néctar doce me deleitar
Autor: Fido do Carmo
Ah! A tempestade quando chega
Molha e desfaz aquela quase certeza
Carrega tudo que, frouxo, vagueia
No chão da existência, arrasta a correnteza
Autor: Fido do Carmo
O trabalho das mãos na labuta
Sol a sol não é nenhum castigo
É dádiva em ter a terra sonhada
Pra cultivar o sustento bendito
Até mesmo as ervas daninhas
E as pragas que estão no caminho
Ensinam-nos a vencer as agruras
Que traz o mundo, o grande moinho
A espera também muito ensina
Do plantio à colheita, o cuidado
Hora certa da rega e da poda
Pra colher sem que tenha tardado
E no prato servido à mesa
Bem temperam as mãos calejadas
Com o sabor do suor da peleja
Torna as almas regozijadas
Autor: Fido do Carmo
Há dias em que a noite me
apetece
O seu silêncio ruidoso de
mistérios
E o céu em breu polvilhado
de brilho
Guiam-me pra além do planisfério
Nesses dias tudo fica lúcido
As certezas atravessam o
lamento
Revestindo-se de siso e firmeza
Levam-me ao bom discernimento
Até as incertezas mais perenes
Dão trégua por um breve instante
Tudo parece tão clarividente
Calculadamente
equidistante
As luzes em meio à
escuridão
São o rumo que eu tanto
preciso
Pra clarear a neblina de
angústias
E transbordar o melhor do meu riso
Autor: Fido do Carmo
Soprou um certo vento bom
Refrescante tal hortelã
Com força pra levar o mal
Pairado sobre o meu clã
Brisa que areja a paz
Faz o trabalho de artesã
Com esmero e fineza
Modela a minha mente sã
Como Éolo vou fazer
Guardar a brisa pra
amanhã
E se aquele mal brotar
Farei do vento o meu divã
Autor: Fido do Carmo
Sonhei com um pomar de poemas
Todo dia brotavam novos versos
Sempre colhia os mais maduros
Eram sobre os temas mais diversos
No sonho, o pomar era balsâmico
Uma mistura de flores e frutos
Enfeitava e alimentava a casa
Saciando com belezas e usufrutos
Acordei e, logo, olhei no quintal
Lá estava apenas o velho pomar
Mangas, jaboticabas e pitangas
Exalando como um belo manjar
Os poemas não estavam por lá
A procura me levou a pensar
Que o pomar muito ajuda a criar
A depender da forma de olhar
A poesia não dá como fruta
Nasce e se faz no enlace do amar
Em terra adubada pelo sentir
Brota a vontade de declamar
Autor: Fido do Carmo
Sai do sereno, Serena
Disse a dona bonita
Seduzida pela rua
A gata no sereno fica
Desce do muro, Serena
Disse à gata zureta
Preocupada com a gata
A tutora faz careta
Entra pra casa, Serena
Insiste a tutora bendita
A gata hipnotizada
Só vê o que lhe cobiça
Venha comer, Serena
Abre o patê pra gatita
Sai do sereno correndo
E avança sobre a comida
Autor: Fido do Carmo
Minha tez que exalava poesia
Hoje sofre com a pura teoria
Se o conteúdo é duro como pedra
A forma carece de ser tão severa?
Autor: Fido do Carmo
O que eu sei é tão pouco
O que não sei, quase tudo
Esse todo aumenta muito
A cada átimo de segundo
Eu busco, ando e luto
Mesmo se corresse sozinho
Ainda seria pouco... louco
Se a febre do saber me toma
Na alteridade eu mergulho
Arrefece o calor interno
Pois tudo que não sei
Asas da paz
Asas de conforto, envolvam-me!
Penas brancas de suave
toque
Aqueçam-me no teu colo brando
E embalem o meu sereno sono
Autor: Fido do Carmo
O ontem, foice afiada do
tempo
Que cortou aquele possível
momento
E ceifou a lembrança do
que não se viveu
Autor: Fido do Carmo
Onírico
Minhas noites parecem
jogos
Conduzidos pelo subconsciente
Com charadas embaralhadas
Que ficam dias na minha
mente
Alguns deles desaparecem
Tão logo eu me desperte
Até tento voltar ao sonho
Mas o espírito segue inerte
Oh! Morfeu, deus dos sonhos
Mande-me formas inteligíveis
Que revelem o caminho
Desses enigmas inacessíveis
Os cenários arquitetados
Dos meus sonhos mais bizarros
Poderiam gerar belezas
Tal Dalí, Frida e Picasso
Mas tudo é tão insólito
Desmorona e me aflige
Nem Freud tá dando conta
Dos enigmas da Esfinge
Oh! Morfeu, deus dos sonhos
Mande-me formas inteligíveis
Que revelem o caminho
Desses enigmas inacessíveis
Devir
Daqui pra frente
Só quero vida, amor e revolução
E que as dores do passado
Fiquem como um denso manto
De cicatrizes marcadas e
mortas
Daqui pra frente
Que venham as dores novas
Pois tenho o coração preparado
Com um escudo duro, casca
grossa
Formado com cicatrizes
sobrepostas
Daqui pra frente
O passado calará o grito.... silenciará
O medo será atropelado
pelo tanque
Da vontade de viver tudo o
que é ser
Porque o devir é o meu grande trunfo
Autor: Fido do Carmo
Sau
da
de
Palavra-igreja
Que congrega a falta
Do bem que se foi
Que reza a lembrança
Do gozo de outrora
Autor: Fido do Carmo
A morte do sim
Há de florescer o melhor
de mim
Nem que para tal eu
decrete o fim
Da minha porção que
sempre diz sim
Às vezes o não, parece
ruim
Mas ele é vital, é bem, outrossim
Vou tirar as ervas daninhas
do sim
Quais flores nascerão no
meu jardim?
Será que o meu melhor cheira
a jasmim?
A morte é a vida da cor
carmim
Autor: Fido do Carmo
Quintal da bicharada
Uma gatinha malhada
Pulou no meu quintal
Subiu no pé de manga
No encalço do pardal
A gatinha acinzentada
Residente do local
Animou-se e se pôs
A subir de modo igual
Um cãozinho peludinho
Dono da jurisdição
Revoltou-se com o agito
Começando a confusão
O alvoroço inusitado
Despertou a atenção
E o pardal ergueu voo
Fugindo salvo e são
Lá do alto, o passarinho
Sentindo a tranquilidade
Cantou forte o deboche
E voou em liberdade
Autor: Fido do Carmo
Chuva de primavera
Oh! Chuva de primavera
Umedece a minha terra
Que a seca prisão do outrora
Inunde com as águas do agora
Autor: Fido do Carmo
Tempo. Temporal de horas duras.
Chove forte e eu sem guarda-chuva.
Dura. Dureza tempestiva e crua.
No solo teso evapora a ternura.
Autor: Fido do Carmo
Vilarejo
Sinto-me preso no sopé de uma montanha
No vale, a força catabática frustra a subida
Mas crio asas e plaino nesta forte ventania
Esperançando luto pelo enleio da partida
Escudo-me no colo da elevada cordilheira
Como águia, fito o topo e empenho-me no desejo
De alcançar as alturas da visão emancipada
No horizonte, o vento bom daquele vilarejo
Projeto-me aos solos de uma nova geografia
Onde as asas são livres do tempo-dinheiro
E a existência é enfrentada com dignidade
Sem grilhões, as plantas dos pés geram viveiros
Tronos
Há tronos sem majestade
Onde todos são quase iguais
Na louça branca ou bege
Do Shopping e dos
terminais
Na hora do desespero
Ninguém escolhe o assento
Quando chega sem
sobreaviso
Faz perder o
acanhamento
A posição comum a todos
Prostrados na defensiva
No alarido e sob o aroma
Da assentada meditativa
Autor: Fido do Carmo
Há de surgir
Há de surgir um abrigo seguro
Cercado de fossos profundos
Com adarves e altos muros
Tão fortes que impedem o abuso
Do intruso poder iracundo
Que cega e faz tudo imundo
Há de surgir um sorriso largo
Faceiro como enredo criado
Com a trilha dos Novos Baianos
No embalo de braços amados
Com ébrios afetos forjados
No brasido dos enamorados
Autor: Fido do Carmo
Pobre poema
Há dias em que tudo seca
Lágrima, sorriso e poema
Aonde outrora transbordou
Nada, por mais que esprema
Tento, esforço-me a sentir
Coloco-me aberto ao dilema
Com o riso e o olhar ressequido
Só me resta este pobre poema
Autor: Fido do Carmo
Mar da existência
A calmaria do alto mar é momentânea
O tempo de tormenta sempre espreita
Atrevo a desbravar o mar da existência
Com o barco tímido de proa bem feita
Mas o leme as vezes pesa tanto, tanto...
Segurá-lo firme na tormenta é resistência
Num esforço vívido busco manter o fito
E impedir o desvio da bússola da sapiência
No limite da sobrevivência do amigo siso
O sopro brando da brisa marinha regressa
Nesse ínterim, refaço-me e ergo o espírito
A alma, por pouco tempo, descansa sem pressa
Autor: Fido do Carmo
Alvorada
desejosa
Noites frias
esquentadas pelas pernas quentes
Pelo afago do colo fragrante
e candente
Que me levanta em
plena alvorada fria
Aquecido pelo desejo
de desfrutar da tua chama
O fim do inverno se anuncia
Ah, primavera!
Já é sentida no calor
das tuas belas pernas
Autor: Fido do Carmo
(feito no fim do inverno de 2022)
Abram as janelas da alma Destranquem vossos corações Que o frescor da brisa praiana Tire o peso das más condições Que a beleza suplante a...